Boletim do IIRC – Edição de Abril 16

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Corporate Reporting Dialogue (CRD) divulga Declaração de Princípios Comuns sobre Materialidade

Oito das organizações mais proeminentes do mundo em relato corporativo divulgaram uma comparação de definições e abordagens sobre a materialidade. O artigo apresenta princípios fundamentais comuns que os participantes do Corporate Reporting Dialogue (CRD, Diálogo do Relato Corporativo) acreditam que sejam consistentes com todas as formas de desenvolvimento dos padrões de relato empresarial.

O Corporate Reporting Dialogue é desenhado para responder às demandas do mercado por maior coerência, consistência e comparabilidade entre estruturas, padrões e requisitos. Inclui as oito principais organizações responsáveis pelo estabelecimento de padrões e a orientação para a elaboração de relatórios para os investidores, credores e outras partes interessadas. Independentemente de suas missões individuais, os participantes compartilham um interesse mútuo pelo esclarecimento dos conceitos de reporte com base na demanda do mercado. A Declaração de Princípios Comuns sobre Materialidade é uma resposta a essa demanda.

Muitas organizações acham desafiador navegar pela gama de definições de materialidade em meio aos regulamentos, padrões e estruturas da elaboração de relatórios. Comentando sobre a divulgação dessa publicação, Susanne Stormer, Vice-Presidente de Sustentabilidade Corporativa da Novo Nordisk disse: “A aplicação da materialidade é fundamental para que as empresas produzam relatórios concisos que ofereçam aos leitores informações relevantes; isso lhes permite focar no que realmente motiva o desempenho e a criação de valor. Os principais definidores de padrões e estruturas darão clareza a conceitos-chave como a materialidade. Eu acolho a publicação sobre os princípios comuns da materialidade e a considero um importante passo a frente”.

Enquanto cada participante do Corporate Reporting Dialogue terá que customizar qualquer definição de materialidade de acordo com sua respectiva missão, a maioria reconheceu um princípio fundamental da materialidade. Aspecto material é qualquer informação capaz de fazer a diferença para as conclusões a que os stakeholders podem chegar.

Comentando sobre essa publicação, Huguette Labelle, presidente do Corporate Reporting Dialogue, disse: “não é possível estabelecer uma definição quantificada da materialidade do tipo ‘one size fits all’ (uniformizada) – em muitos países, é um conceito jurídico com definições estabelecidas. No entanto, esse artigo demonstra um compromisso por parte dos participantes, no sentido de identificar maneiras práticas e meios pelos quais suas respectivas estruturas, padrões e requisitos relacionados podem ser alinhados e racionalizados. O artigo é complementar à publicação do Mapa do Panorama do Relato Corporativo, de 2015, que foi recebido pelo mercado como uma ferramenta que alinha estruturas e padrões do relato corporativo. Estou ansioso por trabalhar com os participantes do CRD, uma vez que continuamos identificando os próximos passos para clarear o campo do relato corporativo”.

General Electric e CalPERS criam oportunidades nos Estados Unidos

Uma das empresas mais conhecidas do mundo, a General Electric, publicou um Relato Integrado. Trata-se de uma onda de evoluções significativas nos EUA, apontando para o aperfeiçoamento do relato corporativo que beneficiará os investidores. O CEO da BlackRock, Larry Fink, fez um pedido para que as empresas reportem e foquem na criação de valor a longo prazo. Presidente e CEO da General Electric, Jeffrey Immelt considera que “o processo de reporte das companhias públicas se tornou tão complicado que o que importa para os investidores pode se perder. Nossa prioridade é fornecer informações pertinentes que todos os investidores possam acessar facilmente”. O Wall Street Journal aponta que a reação inicial ao Relato Integrado tem sido positiva, sugerindo que os investidores receberam bem os esforços da General Electric. O professor Bob Eccles escreveu um artigo na Forbes analisando o relatório e o que significa, para o relato corporativo nos Estados Unidos, que uma empresa tão importante tenha tomado medidas para reformar seus processos de reporte ao adotar o Relato Integrado.

O relatório é divulgado ao mesmo tempo em que o Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos da Califórnia (CalPERS), o maior fundo de pensão pública dos EUA, atualiza seus princípios de governança global. Os princípios servem como estrutura por meio da qual o CalPERS executa suas responsabilidades de voto como procurador dos acionistas e engaja empresas públicas para alcançarem retornos de longo prazo, sustentáveis e ajustados ao risco. O documento aponta que “o Conselho deve fornecer um Relato Integrado que contextualiza o desempenho histórico e mostra riscos, oportunidades e perspectivas para a empresa, ajudando os acionistas a entender os objetivos estratégicos da companhia e o seu progresso quanto ao alcance de tais objetivos”.

As evoluções nos EUA abrem caminho para uma abordagem do relato que não leva à divulgação de mais informações, mas de informações melhores, colocadas em um contexto estratégico adequado, incluindo desempenho, riscos e perspectivas.

Essas evoluções devem ser vistas no contexto atual de que várias organizações importantes dos EUA produzem relatos integrados ou estão trabalhando para adotá-los, por meio da Rede de Negócios do Relato Integrado (IR Business Network). Entre elas estão JLL, PepsiCo, Prudential Financial, Edelman e The Clorox Company.

Departamento do Tesouro do Reino Unido sinaliza para que setor público adote Relato Integrado

O Departamento do Tesouro do Reino Unido tem encorajado organizações do setor público a adotarem o Relato Integrado. Isso pode ser percebido pelo estabelecimento de requisitos mínimos, de diretrizes sobre melhores práticas e de princípios básicos a serem adotados na elaboração de informações. O Departamento do Tesouro incentiva as organizações a incorporarem informações que normalmente são encontradas em relatórios de sustentabilidade ao processo decisório corporativo. A diretriz aponta: “não há um formato padrão para reportar – as companhias devem desenvolver seu próprio formato, que se ajuste ao seu negócio -, mas o Relato Integrado é fortemente recomendado”.

O Departamento do Tesouro afirma que a adoção levará “à reestruturação da tradicional ‘primeira metade’ – referente ao relatório anual – e da ‘segunda metade’ – correspondente às demonstrações financeiras – em três outros requisitos do Relato Integrado, com base no desempenho, na prestação de contas e nas demonstrações financeiras”. Esse é um importante aval do valor que o Relato Integrado pode gerar para as organizações do setor público. As organizações do setor público trabalharam ao lado de empresas privadas para desenvolver e testar a Estrutura Internacional do Relato Integrado. Organizações que começam a aplicar esses princípios, como o Banco Mundial, já estão vendo os benefícios.

O engajamento do IIRC (International Integrated Reporting Council) tem sido concentrado em encorajar a política global e a comunidade reguladora a remover as barreiras para a adoção do Relato Integrado em vez de introduzir uma legislação. Isso ocorre porque, como o Departamento do Tesouro salienta, a emissão de relatórios é mais benéfica para organizações e usuários quando as instituições são inovadoras em sua abordagem, aplicando processos que funcionam para elas. Esse modelo incentiva a organização a se focar em como estão sendo usados recursos e relacionamentos e de que forma a estratégia é conduzida no sentido de criar valor a curto, médio e longo prazo. A diretriz do Departamento do Tesouro será um importante catalisador para garantir que outros órgãos do setor público possam se beneficiar com essa forma evoluída de pensar e emitir relatórios.

Empresas da Nova Zelândia dão exemplos de práticas de liderança

As inovações na emissão de relatórios vindas da Nova Zelândia estão entre os melhores exemplos de Relato Integrado. O relatório de Sanfordclaramente estabelece quatro objetivos estratégicos, explicando sua importância para a viabilidade continuada da empresa e destacando as iniciativas-chave a serem implementadas em cada área. O New Zealand Post – uma das organizações que contribuiu para testar e desenvolver o piloto da Estrutura Internacional do Relato Integrado – publica um relatório de alto padrão, que aborda os desafios do negócio e seu desempenho positivo, dando ao leitor confiança quanto à integridade e à confiabilidade do relatório.

Devido à natureza da economia e à busca por inovação, as empresas não enfrentam barreiras para adotar o Relato Integrado na Nova Zelândia. Como diz Warren Allen, CEO do External Reporting Board (Conselho de Relato Externo), foi dada a largada para o desenvolvimento do Relato Integrado, agora é um caso de adesão. O External Reporting Board – que define o padrão nacional da Nova Zelândia – fez, em 2013, alterações no New Zealand Financial Reporting Act, que explicitamente faziam referência ao Relato Integrado. À época, as organizações da Nova Zelândia viram o movimento como um facilitador para a adoção do reporte. O Auditor Geral também está no processo de produzir um Relato Integrado e é um forte defensor do modelo, um sinal importante para que outras instituições sigam o mesmo exemplo.

O Departamento do Tesouro da Nova Zelândia adotou uma Estrutura de Padrão de Vida (LSF, na sigla em inglês), que tem semelhanças significativas com o pensamento integrado (conforme descrito na Estrutura do Relato Integrado) e uma abordagem multicapital. O foco está em quatro tipos de capital – econômico, natural, social e humano – com o econômico sendo descrito em termos equivalentes ao capital financeiro, de manufatura e intelectual do Relato Integrado. O Departamento do Tesouro declara que a saúde dos capitais impulsiona muitas das coisas que são importantes para melhorar o padrão de vida, ou seja, em linha com a crença do IIRC de que usar um modelo multicapital leva a um melhor entendimento da criação de valor real.

Convite para que fundos de pensão adotem Relato Integrado

O respeitado especialista em gestão de pensões Keith Ambachtsheer lançou seu mais recente livro “The Future of Pension Management: Integrating Design, Governance and Investing” (“O Futuro da Gestão de Pensão: Integrando Design, Governança e Investimentos”, em livre tradução). O livro, que foca nas mudanças necessárias para enfrentar os desafios futuros da previdência, tem um capítulo dedicado a organizações que administram fundos de previdência e ao Relato Integrado. O capítulo aponta que “a liderança da comunidade internacional de gestão de previdência deve apoiar a iniciativa. Não somente porque isso levará mais informações úteis para os investidores sobre como as empresas estão criando valor a curto, médio e longo prazo, mas também porque a estrutura do Relato Integrado é uma ferramenta útil para organizações de previdência privada”.

Ambachtsheer acredita que “as soluções para os problemas de hoje já existem e que a questão agora é a implementação. Aprender com experiências de companhias de outros lugares do mundo faz todo o sentido”. O livro apresenta exemplos que “mostram como o Relato Integrado propicia o pensamento integrador sobre objetivos e estratégias organizacionais, aspectos que geram melhores resultados”. Alguns dos maiores fundos de pensão da Austrália, tais como o Cbus e o VicSuper, já estão colocando em prática os conselhos de Ambachtsheer quanto à adoção do Relato Integrado. Fundos de pensão estão se unindo na IR Pension Network (Rede de Pensão do Relato Integrado) para desenvolver suas práticas de reporte, com forte incentivo de Paul Murphy e sua equipe no Australian Council of Superannuation Investors (ACSI, Conselho Australiano de Investidores de Aposentadoria).

O livro também explora o papel do Relato Integrado no investimento a longo prazo para monitorar “a saúde e a eficácia das organizações investidas” por meio do entendimento da missão, visão e do modelo de negócios da organização e os capitais que ela usa e efetiva.
O livro tem sido apontado como leitura obrigatória para os interessados em compreender e implementar inovações em projeto, governança e investimento de fundos de pensão. A obra está disponível para compra on-line.

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Paul Druckman, CEO do IIRC, falou ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas em 31 de março de 2016. Sua palestra está disponível para leitura.

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Ligando os pontos: tomada de decisões para uma nova era” por CGMA define o papel do pensamento integrado na melhoria do processo decisório.

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